“Caminhada Silenciosa”
A artista Vivian Caccuri desenvolve há vários anos o projeto ‘Caminhada Silenciosa’. Como o título indica, a artista cria trajetos, guiando grupos (de até 20 pessoas) para redescobrir a cidade em silêncio (num percurso que dura até 8 horas). Nas palavras desta, o projeto visa:
“levar o grupo a visitar locais com atividade acústica especial. Construções que abrigam sons contrastantes, problemas acústicos, terraços, bairros isolados, arquivos e espaços religiosos são exemplos de locais pelos quais o grupo percorre. Ao longo do dia a excursão poderá encontrar situações onde se vêem mais facilmente as relações entre arquitetura, privacidade, propriedade e intimidade”
Fig.1 – trailer de ‘Caminhada Silenciosa’ (vídeo de Vivian Caccuri)
Eu tive a oportunidade de participar numa das caminhadas da Vivian, que ocorreu em São Paulo no dia 24 de Setembro de 2015. A Vívian pede para mantermos silêncio durante o percurso e começarmos por explorar o Centro Cultural de São Paulo…
Fomos à tipografia.
Fomos ao arquivo do CCSP onde tivemos a ver técnicos lavar vinis.
Almoçamos no terraço do centro cultural.
Entramos numa igreja evangélica.
Fomos a uma capela/sala de um colégio beneditino e parámos por uns momentos (ver gravação em baixo).
Fig.2 – excerto áudio da ‘Caminhada Silenciosa’ 24/09/2015 (gravação binaural de Rui Chaves — use fone de ouvido).
Tivemos num templo budista.
Comemos um picolé no bairro da Liberdade.
Noutro lugar, alguns comeram um pastel de belém.
Vimos o pôr do sol no topo do helipad de um prédio da prefeitura (ver vídeo em baixo).
Fig.3 – clip de video feito durante pausa do grupo na ‘Caminhada Silenciosa’ 24/09/2015
Por engano, comi a resina de uma árvore.
Acabamos todos a jantar juntos.
Fig.4 – Documentação fotográfica de ‘Caminhada Silenciosa’ 24/09/2015 (fotografias de Paulo Otero)
O voto de silêncio foi algo mantido entre o grupo, a comunicação entre nós era feita através de papel/caneta (sugestão da Vívian que nos pediu para trazer esse material) ou então notas no celular. Esse modo de comunicar, levou-nos a negociar a nossa presença no espaço de uma forma diferente. Lembro-me de parar numa confeitaria e de cada um de nós fazer o pedido com papel e caneta. Nesse sentido a ‘Caminhada Silenciosa’ para mim foi um ato de descoberta, não só na maneira de contemplar de diferentes ritmos e timbres sônicos ou arquitetônicos, mas como também na possibilidade de interagir individualmente ou socialmente de novas formas.