‘A ideia de ser um turista na sua própria cidade’
A Lílian Nakao Nakahodo é uma artista que recentemente desenvolveu o ‘mapa sonoro CWB – Uma Cartografia Afetiva de Curtiba‘. Este projeto foi desenvolvido durante o seu mestrado e teve o apoio de diversas instituições (1).
Este projeto foi apresentado num livreto-cd (15×15 cm, 55 páginas + CD com 14 faixas), em paralelo a uma plataforma online que possibilita a audição de ‘relatos/entrevistas de 29 pessoas, entre homens e mulheres, na faixa dos 30 aos 105 anos de idade, com perfis profissionais e interesses variados e gravações feitas de diferentes ambientes que surgiram dessas discussões’ (Nakahodo 2016).
Figura 1. livreto-cd ´Mapa Sonoro CWB: Uma cartografia afetiva de Curitiba´.
Este processo de conversa, de ir em busca de uma discussão dos sons da cidade, do cotidiano, de uma memória sonora — liga uma reflexão sobre a nossa relação entre o ambiente acústico e uma forma de mapa/mapeamento que tentar ir para além da representação científica assente numa ilusão de neutralidade/objetividade. O objetivo da Lílian era criar:
“… uma cartografia afetiva de Curitiba, desenhada por lembranças, experiências e percepções aurais.Relembrar as primeiras impressões sonoras de Curitiba. Vasculhar a infância em busca de sons significativos. Percorrer os do cotidiano e os dos lugares afetivos. Descrever aqueles que irritam. Refletir sobre os que causam alegria e prazer. Essa foi a experiência de, a princípio, 29 pessoas, entre homens e mulheres, na faixa dos 30 aos 105 anos de idade, com perfis profissionais e interesses variados…” (ibid. 2016)
Em Março de 2016, eu tive oportunidade de entrevistar Lílian e de conversar sobre estas motivações, a sua contribuição para a ideia de mapa sonora, a importância do relato/entrevista na descrição de determinadas paisagens sonoras, e a forma como o projeto se desdobrou.
Gravação 1. Entrevista a Lilian Nakao Nakahodo (14/03/16). Gravação binaural de Lilian Nakao Nakahodo (usar fone de ouvido)
Esta entrevista ocorreu depois de uma oficina de cartografia sonora que a Lílian realizou numa escola no Centro Industrial de Curitiba. Deixo em baixo, o meu relato da minha participação num dos dias da oficina (12/03/2016)
A oficina começou no Colégio Brasílio Vicente de Castro que se localiza no Centro Industrial de Curitiba. A primeira pessoa com quem eu falo é o Alex Otto, um vocalista de uma banda de metal (Estado Laico) que também participa de uma associação que se chama anima CIC. Foi com a ajuda da Janaína Moscal e a assistência do Alex, que foi possível organizar a oficina em questão.
Gravação 2. Adriano Elias, Laíze Guazina e Lílian Nakao Nakahodo brincando no parque. (12/03/2016) Gravação video de Rui Chaves. Gravação estéreo de Alex Otto
A outra coisa que é difícil de ignorar é que esta massa de grupo, causa uma reação das pessoas que nos observam de fora . Para além disso, existem alguns participantes que têm uma atitude super ativa e começam a explorar o espaço com os seus gravadores; como se os microfones fossem um filtro que permitissem explorar um outro mundo de sonoridade. Como já referi, existe também algo de profundamente playful neste processo. Lembro-me de entrarmos num supermercado.
Gravação 3. Alex Otto, Laíze Guazina, Lílian Nakao Nakahodo e Kety Silva. (12/03/2016) Gravação video de Rui Chaves. Gravação estéreo de Alex Otto
Figura 3. Kety Silva descrevendo a sua experiência no passeio sonoro (12/03/16.) Imagem de Rui Chaves.
Várias pessoas comentam também a diferença entre sonoridades nessa área, versus o que acontece no centro. Uma coisa que acaba por permear o nosso passeio, é a existência de carros de som e outros veículos de venda móvel que anunciam os seus produtos através de sistemas de som.